“Você pertence a mim e eu
pertenço a você, no amor.
Mas eu sou eu, e você é você.
Independentemente, compartilhamos
nossas vidas juntos.”
Susan Polls Schutz
O casamento é uma meta a que todas as pessoas almejam. Mas, na atualidade, com a primeira frustração em relação à pessoa amada, os casais partem para a separação. E se se unirem novamente, repetirão as mesmas falhas e as frustrações irão ficando cada vez maiores.
Um dos principais fatores que precipitam esses acontecimentos é o fato de que sempre nossos pais nos frustram em algumas ou muitas coisas. Crescemos, casamos e quando se repetem as frustrações com nossos cônjuges, é como se elas batessem naquela tecla inicial. Um acontecimento que poderia ser superficial ou periférico, e que uma boa conversa “entre adultos” resolveria, fica tremendamente potencializado pelo passado.
O ideal seria resolver esses relacionamentos infantis. Esse é o grande campo de atuação da Psicanálise: solucionar as causas para que não tenhamos mais problemas atuais.
Existem alguns truquezinhos que podemos usar para que os relacionamentos não ruam. Um deles é que cada um dos cônjuges tenha atividades no trabalho ou em seu lazer extremamente prazerosas. Tendo prazer em suas realizações, os casais tornam-se mais tolerantes, menos exigentes e usufruem o que há de bom na união. Pessoas realizadas profissionalmente são, em geral, dóceis e pacientes.
O segundo “truque” se constitui nos hobbies. Mesmo tendo realizações no trabalho, é interessante nos dedicarmos a algo que nos satisfaça muito, principalmente quando é algo ligado ao nosso físico: uma ginástica localizada, um jogo de futebol, vôlei, ioga, caminhadas, andar de bicicleta. É muito importante estarmos voltados a causas maiores e prazerosas, além de tomarmos um bom cuidado com a parte alimentar.
Quando estamos satisfeitos com nossos corpos, com o que estamos fazendo de nossas vidas, quando nos admiramos e nos respeitamos, sem exageros, já estamos com mais de meio caminho andado para sermos compreensivos, tolerantes e bons ouvintes para nossos cônjuges. Seremos, também, capazes de incentivá-los a tentar fazer ou a fazer o mesmo que nós, porque não estaremos depositando neles as nossas expectativas de realização. Assim, os cônjuges tornam-se mais maduros e tolerantes com a limitação do outro e as necessidades de colocarem no companheiro suas expectativas de realizações ficam bem reduzidas.
O mundo atual, muito competitivo, leva-nos a frustrações excessivas e as pessoas que nós mais sobrecarregamos são as mais próximas, começando pelos cônjuges. Tendemos a esperar que estes satisfaçam nossas expectativas de realizações, como se eles pudessem preencher nossos vazios.
A ciência Psicanálise nos explica que esses vazios, buracos, depressões, são oriundos da nossa infância. Costumo dizer que, se quisermos ir para frente e ter realizações em todos os setores da vida, precisamos voltar à infância e resolver as frustrações que lá ficaram. Aí, sim, poderemos avançar com toda a firmeza, realizando-nos plenamente, inclusive no afetivo-sexual.
Os homens gostariam que suas esposas continuassem com o corpinho de solteira e ficam chateados quando as mesmas engordam na gravidez e depois têm, ainda, que repartir o tempo que era só deles com os bebês. A queixa maior das mulheres é da falta de compreensão e de diálogo por parte dos maridos. Elas querem continuar sendo “paparicadas” e acham que eles perderam a sensibilidade.
Esses fatores podem levar os casais à beira de uma separação. Cada um se recolhe para seu lado, sem tentativas de conversas, explicações, mútuas compreensões. Sequer os filhos são levados em consideração, como se crianças tivessem sempre que obedecer sem serem questionadas. A cada dia que passa, os casais menos se empenham em querer resolver e superar suas crises matrimoniais.
Separações são muito traumáticas e só deveriam ser levadas a cabo em casos extremos. Com decisões precipitadas sobre separações, daremos um péssimo exemplo para nossos filhos, em relação aos seus próprios vínculos amorosos: casamentos e separações precipitadas, a mesma falta de responsabilidade para com os filhos, que vierem a ter, podendo levá-los a descrença e a fuga de compromissos sérios, com medo de repetirem as atitudes paternas.
Percebe-se, na sociedade atual, mães que fazem também papéis que caberiam aos pais e vice-versa: filhos pequenos vendo suas mães separadas saindo com outros homens, e filhos mais velhos cuidando dos pequenos, papel que caberia ao pai.
Para que os cônjuges se mantenham unidos, é preciso humildade a fim de que cada um reconheça seus próprios erros. A palavra mais bonita de se ouvir, e que infelizmente está se tornando rara, é “desculpa”. Se ela for seguida de “Eu errei. Vamos começar de novo?”, melhor ainda. Devem os cônjuges ser bons companheiros, bons amantes, respeitarem-se e admirarem-se infinitamente além, é claro, de terem uma boa interação emocional. A cada dia que convivemos com nossos maridos/mulheres é um manancial de novas descobertas a respeito deles. Mas, para tanto, precisamos estar abertos para escutar, entender o que a outra pessoa está dizendo. Coração aberto é o principal. Hoje as pessoas não param mais para escutar as outras; estão avidamente esperando que o outro acabe de falar, ou até o interrompem, para falar de si mesmas. Tentem ler essas palavras com o coração, deixando que elas penetrem muito fundo em suas almas.
Jonia Ranali