Tem alguns anos, quando eu era bem jovem e estava na fase de filhos muito pequenos, trabalhava num Centro Espírita chamado “Razin”. Estava desenvolvendo o meu trabalho nesse local e lia muito a respeito de espiritismo, pois fazia Evangelhos antes dos trabalhos de passes, e por esse motivo possuía muitos livros espíritas.
Meu então marido – hoje estou divorciada – tinha ido há dias atrás para o Rio de Janeiro com o pai, pois uma prima dele havia perdido o marido e os três filhos do casal em um acidente, quando o carro em que estavam pegou fogo na estrada e os quatro morreram carbonizados.
Estávamos perto do Natal e um dia eu estava no quintal brincando com meus filhotes e chegou a Marilene – a prima dele que havia sofrido aquele infortúnio – com o pai dela para nos visitar. Trouxe presentes para as minhas crianças. Eu não a conhecia. Mas que moça linda. Bem alta, corpo como se diz hoje “sarado”, loira e com encantadores olhos claros.
Essa gatinha havia perdido a mãe há meses atrás e agora só restavam ela e o pai no Rio de Janeiro. Vieram ver todo o resto da família que morava aqui em São Paulo.
Conversamos muito, ela me contou de todo o acontecido, estava desesperada e sem perspectivas de vida. Os dois filhos mais velhos já eram adolescentes, mas havia um menorzinho, temporão que ela adorava e que chamava de “pulguinha”.
Escutei tudo aquilo, dei-lhe bastante carinho e apoio, mas senti que algo faltava ainda.
Então fui à prateleira de meus livros espíritas, escolhi um condizente com a situação, que falava sobre carma, por que razão as coisas aconteçam de uma forma tão dolorosa para certas pessoas, e dei-o de presente a ela.
Bem, não mais a vi.
Passaram-se por volta de uns dois anos, quando, com surpresa recebi uma carta de Marilene.
Na carta ela me dizia que havia “devorado” o livro, e em seguida foi procurar uma casa espírita pelas redondezas de onde morava, começou a frequentá-la e iniciou os cursos oferecidos por esse Centro. Sua tristeza foi passando, o sorriso voltando e ela conheceu um rapaz e casaram-se. Como não podia mais ter filhos, pois após o nascimento do “pulquinha” havia feito uma laqueadura, adotaram uma menina – que hoje com certeza já é uma moça feita.
E, me conta do por que estava me escrevendo aquela carta: no Centro que continuou frequentando um determinado dia lhe disseram que alguém havia indicado esse local a ela e que deveria escrever, ou falar com a pessoa para agradecer.
Chorei muito de felicidade por eles três e de joelhos agradeci a oportunidade de ter feito algo tão precioso apenas com a intuição de que deveria dar a ela “aquele” livro, escolhido entre tantos outros, com minhas mãos guiadas pelos mentores superiores.
E, eu, que já fazia caridade, comecei a faze-lo mais ainda, o que continua acontecendo até hoje.
Agora, novamente de joelhos estou agradecendo tudo o que tenho e tudo o que posso fazer e o que ainda farei pelos meus semelhantes…
JONIA RANALI