Hoje em dia falar mal de vida alheia chama-se fofoca, mas há algumas décadas era “maledicência”, algo muito sério.
Existe uma antiga história, que por vezes é contada de maneira diferente, mas vamos vê-la como tradicionalmente está descrita: Uma senhora, ao confessar os pecados ao padre, contou de suas maledicências, e como penitência teve que subir à torre da igreja e, de lá, esvaziar um travesseiro cheio de penas.
A senhora fez o combinado e depois voltou ao padre que lhe aplicou a segunda parte da penitência: recolher todas as penas que havia espalhado pela cidade. E, ela protestou: era impossível obedecer.
O padre lhe explicou, então, que também seria impossível “recolher” as consequências do que ela havia dito de forma fútil.
Os nossos impulsos, independentemente de surtirem resultados positivos ou negativos, são normais, mas um dos impulsos inconscientes, que mais se realizam na fofoca, é a inveja. Podemos destruir, com ela a reputação de outra pessoa. Trocando inconfidências, ela satisfaz sua inveja, mas VOCÊ NÃO CRESCE. E qual é o nosso propósito maior neste planeta? CRESCER emocionalmente, espiritualmente…
Mas, por que se faz fofoca? Para satisfazer desejos reprimidos inconscientes: a própria inveja, a agressividade, o afeto e outros. E, no caso da agressividade ao invés de assumir que está com raiva, agredir a outra pessoa, e depois tentar conversar para se entenderem, a agressividade sai através da fofoca. Com isso o ser perde a oportunidade de crescer, desperdiçando a energia positiva da agressividade, que quando canalizada transforma-se em produtividade para si e para os semelhantes, e ainda destrói a reputação alheia.
E, a história da Raposa e as Uvas é um bom exemplo do desejo afetivo reprimido: a raposa tentava alcançar as belas uvas, e sem consegui-lo, afasta-se, dizendo: “Estão verdes”. Mas em seguida ao cair uma folha, ela se volta ansiosa. Da mesma forma, a fofoca pode ser a manifestação da uva verde: como não tenho acesso aquilo que desejo, finjo não me interessar por ele. Mas, passo a menosprezá-lo através da fofoca, perdendo a chance de lutar pelo que quero.
A fofoca, teoricamente falando, é um relaxamento do superego, que é a nossa censura interior – parte moral – que permite que a maledicência deixe de ser considera uma coisa muito séria. E ela também tornou socialmente aceita a necessidade que certas pessoas tem de satisfazer impulsos inconscientes profundamente destrutivos.
Também existem fofocas nos meios de comunicação.
E, como existem… Os meios de comunicação podem divulgar uma falsa notícia, como a de que o presidente vai ser operado. A bolsa cai sete pontos. Será que a fofoca não foi criada para quem pretendia lucrar alguns milhões? Esse tipo de notícia plantada prejudica os investimentos da bolsa e o desenvolvimento do país.
Existe ainda o caso de uma pessoa que ao ouvir um elogio a uma moça bonita, logo diz: “Pudera…” e na cabeça do outro fica a pergunta: “Pudera o que”? A moça bonita que havia despertado o elogio, tem reputação maculada, enquanto o fofoqueiro só satisfaz a sua inveja.
Como a inveja pode ser corrigida? Aprendendo, como aqui explico, que a inveja é um ato de satisfação dos desejos inconscientes (reprimidos), e depois olhando para dentro de si mesmo e verificando qual o impulso reprimido que se está satisfazendo. E, saber que virando as costas, você, como todos os ausentes, também será alvo das fofocas.
JONIA RANALI – Psicanalista, docente em Psicanálise, Hipnoterapeuta.
Muito interessante!!