As rosas também morrem: faltou o amor

Deram a Rosa Preciosa um nome ajustado ao seu modo de viver. Desde pequenina sentia-se bem quando com ela não implicavam ao ve-la mergulhar as mãozinhas na terra, no replante de mudas e cultivo de flores. Nisso a Rosa era Preciosa que só vendo…Regava as plantas com desvelado carinho; impedia que ervas daninhas crescessem ao seu redor; podava-as eliminando galhos e folhas secas; evitava colhe-las, pois apreciava mais ve-las vicejando ao doce perpassar do vento do que metidas nos vasos que alindavam os arejados departamentos da casa. E, nesse amor pelas flores, chegou à mocidade. Quando os pais perguntavam sobre futura profissão, alegava sempre que não tinha propensão por nenhuma carreira liberal, pois seu gosto era pelas flores. Os tratados sobre a nossa flora e os livros específicos sobre flores eram o atrativo da sua leitura e aperfeiçoava as espécies que mais apreciava e isso a transformou numa autêntica e inveterada floromaníaca.
Com a ajuda dos pais comprou um pedaço de terra por onde corria límpido regato…Lugar adequado para exercitar e aprimorar os seus pendores pela floricultura, e mais do que mera floricultora, foi possuida por um endoidecer pelas flores. Com o ganho de seu zeloso trabalho, montou luxuosa floricultura, e em pouco tempo tornou-se a floreira mais famosa da cidade e fez-se consultora das pessoas abonadas interessadas nos arranjos artísticos de sua inventiva. Combinava flores e ramagens, evitando repetir os modelos. As igrejas adornadas para esponsais, quando lhe levavam a marca, pareciam paraisos a rescindirem perfumes e cores. E as solenidades públicas e privadas, demandavam-lhe a perícia e os jardins ganhavam galhardia e beleza quando por ela desenhados e tratados. Conseguira amealhar considerável fortuna.
Mas Rosa Preciosa no trato com as flores, esquecera-se de cuidar de si mesma e foi perdendo a formosura. Encantada com as flores esquecera-se que a vida é governada pelo tempo que avança inexoravelmente no conduzir os viventes à ancienidade, e tarde percebeu que começavam a faltar-lhe as forças para dar atendimento aos seus clientes.
Só então percebeu que esquecera-se de amar. Quando no funéreo ambiente de uma câmara ardente despedia-se dos pais à eternidade chamados, não avaliara o abismo em que mergulha quem fica sozinho no mundo.
Rosa viu-se só e envelhecida e com a saúde minada. Não conseguia mais apreciar suas lindas flores, pois estava com os olhos enevoados por impertinente catarata. Teve que entregar seus negócios nas mãos de terceiros e seu cabedal foi minguando e a famosa floricultora acabou fechando as portas.
Internaram Rosa num hospital credenciado e os últimos caraminguás ganhos com as flores foram gastos no longo tratamento. Os poucos amigos deixaram de visitá-la e ficou cercada por médicos e enfermeiras. Numa tarde de frio rigoroso, encontraram-na morta e enrijecida na cama hospitalar.
E no necrotério ninguém para velá-la. Nada de flores… E Rosa foi metida numa cova rasa… No montículo de terra da sua tumba nenhuma flor foi deixada.
Rosa que levara uma existência florejante e tão Preciosa no amanho da terra e a enfeitar altares para núpcias e salões para recepções faustosas, não teve sequer uma única flor para marcar a sua sepultura com o carinho de uma lembrança ou o afeto de uma saudade.
O MAL DE ROSA PRECIOSA FOI NÃO VISLUMBRAR, NOS CAMPOS FLORIDOS DA VIDA, O FLORESCER DA MAIS PRECIOSA DAS FLORES – A DO AMOR.
JONIA RANALI – psicanalista, docente em Psicanálise, palestrante, escritora

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